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domingo, novembro 13, 2011

Carta a Vó Lia

Nossa vó como a Saudade é cruel ...
Ela machuca...Estamos tentando "educa-la"
O pior é quando não podemos impedi-la de machucar...
Essa nova responsabilidade que nós deu não é mole não: uma Saudade pra cuidar.
Pena que não pode vir aqui ajudar a cuidar da sua Saudade Vó ...
Não tem sido nada fácil conviver com essa "herança" que nos deixou...
A Saudade não é muito fácil de lidar, não é obediente, mas é companheira, sempre se faz presente..
Conviver com esse novo membro na família foi muito difícil no começo ..
Estava sempre aprontando, nos fazendo chorar...
Cada lugar que ia, perfume que sentia, comida, seus bons e velhos companheiros casacos e cadeira de balanço, nomes, palavras, lá estava  Saudade fazendo trazer a lembrança da sua ausência..
Mas ela é bem esperta. Muitas  vezes na tentativa de que a Saudade não me visse, evitei ir a sua casa, olhar ou passar pela rua que moravas.
Mas era impossível, mesmo a metros de distancia ela me avistava (muito difícil despistá-la ... ) e vinha me fazer sorrir com boas lembranças ou logo me tirava uma lágrima, duas ou um pranto...

Isso me faz lembrar quantas vezes esperei meses, para enfim chegar na sua casa ...
Chegar na esquina da rua e ve-la sentada na calçada da sua casa, uma simples presença, porém  imprescindível presença..
 Para muitos apenas mais uma pessoa na porta de casa... 
Maria Medeiros ou minha Avó Lia
Para mim era o referencial  e diferencial daquela rua, a paisagem a qual vi toda minha vida... e que de uma hora pra outra foi destruída...
As lágrimas ainda se fazem presentes, mas geralmente acompanhadas de sorrisos tímidos ao lembrar do seu sorriso e do seu jeito alegre.

A Saudade por onde anda carrega uma caixa, nela tem momentos da infância, férias de final de ano, o tempero que só as avós têm, seus olhos claros que tanto desejei ter herdado, lembrança da sua pele fina e enrugada, a razão de reunir toda família no domingo, a dentadura mais perfeita do mundo, cujo sorriso é inesquecivel, os cabelos brancos que eu adorava pentear... E uma vida de momentos.
Infelizmente hoje, o que posso fazer  é abrir essa caixa e relembrar tudo de bom que tem dentro dela, pra que a Saudade se comporte por um momento, porque ela não pára nunca.
Tenho que ir agora, a Saudade acaba de chegar.


Sua neta Mila.

4 comentários:

  1. Eu nunca soube ao certo a dor e a saudade do luto, mas é sempre bom lembrar daqueles que se foram. São lágrimas de felicidade, eu suponho. Só que turvas demais pela certeza de que não terás mais aquela companhia...

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  2. Tive a oportunidade de ler seu texto,agora e fiquei emocionado pois perdi minha vó a três meses e conheço a dor de perder alguém que amava tanto!

    Conheci dona Lia, ela é do Bairro de Fátima, né? Se for ela mesmo, digo que era muito amiga de minha Vó Dona Filó, que também morava no Bairro de Fátima e faleceu a pouco mais de três meses.

    Você disse, que quando chegava na esquina da rua e a via sua vó sentada na calçada, me fez lembrar de Vó Filó, que também ficava na calçada, e quando chego próximo de sua casa e vejo um tronco de arvore, que ela fez de assento e passava a tarde conversando com suas vizinhas, sinto uma angústia, pois não a vejo mais lá!

    Avós queridas, nos deixam saudades....

    Parabéns Milla!

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